- Olá Brian como vai?
- Como você ainda tem a cara de pau de vir atrás de mim em?
- Brian me escuta eu vim esclarecer tudo!
- Esclarecer o que? Você e meu pai me deixaram naquela clínica maldita, foi isso que aconteceu!
- Não você está bem enganado. Eu voltei pra cá pra te defender Brian, eu me encontrei com seu pai antes de viajar e ele me contou que tinha um garoto ameaçando divulgar um vídeo com você e ele fazendo sexo, seu pai achou que era mentira, mas não era ele começou a fazer um monte de exigências á ele, infelizmente seu pai acabou aceitando para que nada afetasse os negócios dele eu resolvi vir pra cá e tentar te ajudar, mas já era tarde demais, depois que nós tivemos aquela briga eu resolvi ir embora, só fiquei sabendo do ocorrido quando ele me ligou. Ele ficou um tempo me olhando, não sabia o que dizer para Marcelo.
- Ah... Desculpe-me pensei que tinha sido você que ajudou meu pai a me internar naquela clínica.
- Não, foi o Pietro que ajudou ele, depois os dois foram para Portugal e seu pai o sustenta. Sinto minha cabeça latejar, Marcelo percebe meu mal estar.
- Brian, você está bem?
- Estou... Só fiquei muito confuso com tudo isso, me desculpa por ter te julgado daquela forma.
- Você não teve culpa!
- Obrigado por tentar me ajudar Marcelo... Você não quer vir almoçar comigo e o Júlio?
- Bom se não for um incomodo pra vocês!
- Rs... Claro que não Marcelo.
Subo em sua moto, era constrangedor para mim, ter que agarrar-me á cintura de Marcelo, mas era necessário, por alguns minutos sentia seu cheiro inebriando minha cabeça, tantas lembranças vinham á minha mente, nossa infância, as descobertas da adolescência tudo aquilo era o meu passado, que fora sempre conduzido por minhas amizades, nunca por minhas perspectivas ou escolhas. Finalmente chegamos em casa, passando pela recepção do hotel noto uma certa curiosidade por parte do recepcionista em relação ao meu amigo, subimos até meu quarto, abro a porta e vejo Júlio deitado no sofá, não sei o que houve comigo, mas vê-lo ali dormindo de uma forma sútil, ou até mesmo angelical, me fez ficar ainda mais apaixonado.
- Brian! Brian! Acorda você não vai entrar não? Ou prefere ficar parado na porta? Disse-me Marcelo.
Eu realmente amava o Júlio, não resisto e vou em direção ao sofá, agacho em sua frente e lhe dou um beijo calmo, porém carinhoso, seus olhos começam a abrir lentamente.
- Meu amor que bom ver você, estava com saudades! Disse Júlio acariciando meu rosto.
Nesse instante dou-lhe um abraço, me sentia protegido em seus braços, minhas mãos percorriam seu corpo buscando seu amor.
- O que houve contigo Brian?
- Nada meu amor só me abraça!
Aquela paz acabou assim que ele avistou Marcelo na porta, via em seu olhar o ódio que ele sentia dele.
- O que esse traste está fazendo aqui?
- Calma Júlio, ele me explicou tudo o que aconteceu.
- Ele está tentando te enganar.
- Brian é melhor eu ir embora, não quero causar indisposição entre vocês dois.
- É a melhor coisa que você faz seu traidor, como pode deixar o pai do Brian fazer aquilo com ele?
- Amor se controla, olha eu vou te explicar o que aconteceu...
Conto todos os detalhes daquela história irônica do meu próprio destino, era difícil reproduzir cada palavra, me sentia um idiota, pois todos me controlavam, queria me libertar de tudo começar uma nova vida, só precisava ter a certeza que Júlio viria comigo.
- Pronto! Entendeu agora?
- Eu nunca pensei que Pietro seria tão cruel á esse ponto.
- Ele e capaz de muito mais Júlio, eu andei investigando a vida dele e descobri várias coisas. Ele veio de uma cidade do Interior de São Paulo, lá ele se envolveu em uma confusão com o filho do prefeito da cidade, algumas semanas depois o rapaz foi encontrado morto em seu banheiro, ele havia se suicidado.
- Será que ele tem alguma coisa a ver com isso?
- Creio que sim Brian, mas a melhor coisa que vocês podem fazer é ficar longe dele.
- Não tenha dúvidas quanto á isso.
- Vamos almoçar pessoal! Disse Júlio correndo para a cozinha.
Durante o almoço a conversa fluía de forma tranquila, em todo momento minhas mãos se entrelaçavam as do Júlio, eu parecia um bobo, realmente estava amando aquele homem, não conseguia mais viver sem ele, parecia que tudo se resumia em sua presença junto a mim.
A noite se aproximava e com ela um frio estonteante, Marcelo já havia partido, agora só restava Júlio e eu naquele apartamento, e lá estava ele sentado á mesa lendo seus gibis, eu estava no sofá tentando ver sentido naquela maldita “caixa com imagens”, decido então juntar-se ao meu amor.
- Não acha que está um pouco velho para ler gibis. Digo me sentando em seu colo.
- Hum... Claro que não meu amor, talvez devêssemos aprender mais sobre a vida nas coisas mais simplórias que existem, no meu caso os gibis. (risos)
- Te amo sabia?
- Ôh... Meu amor, te amo muito também!
- Me abraça!
- Tá bom meu bebê.
Fico ali sentindo as batidas de seu coração, seu cheiro me atraia como é bom ter alguém para lhe proteger, lhe amar, me sentia realizado, me sentia amado.
- Júlio?
- Bom dia amor!
- Como eu vim para a cama?
- Eu te trouxe.
- Que horas são?
- Sete horas e vinte minutos e você está atrasado para o seu primeiro dia de aula.
- O que? Meu Deus, tô ferrado Júlio e agora?
- Calma eu liguei para a escola e avisei seu atraso, mas você tem que andar logo pra pegar a segunda aula.
Arrumo-me rapidamente para a escola, Júlio ficava rindo da minha cara de desespero, não tive muito tempo para tomar café da manhã. Á caminho da escola vejo como tudo estava mais colorido, parecia que meu mundo estava saindo daquela morbidez ao qual eu pertencia tudo estava mais limpo. Toda aquela felicidade de recomeçar minha vida iria se dissipar, adentro a escola todos me olhavam com um ar de repulsa, nesse instante eu era um gay, pobre e ainda louco. Todos aqueles olhos me condenavam diante de minha face, não poderia desistir, nesse instante Anitha se aproxima de mim, e com um sorriso irônico ela começa a falar alto.
- Não sabia que nessa escola eles aceitavam “frutinhas”!
- Se eu sou frutinha ou não isso não é do seu interesse.
- Olha aqui seu “viado”, fora daqui agora, não quero nem respirar o mesmo ar que você! Logo aparece seu namorado, Carlos, eu o odiava, ele era egoísta, egocêntrico e mesquinho, minha falta de apreço por ele só aumento quando eu o vi beijando Pietro dentro daquele banheiro, mas agora eu não deixaria aqueles dois me abalarem.
- Acho melhor você olhar bem em sua volta, talvez você não precise desse “viado” para poluir o seu ar, pois já tem um abrindo suas pernas todo dia. Olho para Carlos que estava vermelho de raiva.
Dou as costas para eles e vou direto para o banheiro, chegando lá encontro Elber beijando um rapaz.
- Elber? Ele se assusta e empurra o pobre garoto que ali estava.
- Nossa que susto Brian!
- É melhor vocês terem mais cuidado imagina se fosse outra pessoa?
- Deixa eu te apresentar esse aqui é o Felipe. Felipe esse é o Brian!
- Você é novo na escola Felipe?
- Sou sim Brian, acabei de me mudar de Curitiba.
Fomos os três caminhando e conversando até nossa sala, ao chegar vejo Anitha e Carlos em um grupinho nos fundos da classe, todos me olhavam de um modo estranho, cheguei a parar e pensar em fugir dali, mas graças ao Elber, que me segurou, pude seguir em frente, a aula parecia tediosa pra mim, tudo estava me incomodando desde o barulho que o pincel fazia no quadro até os risos incessantes de Anitha, mas finalmente o sinal tocou sai o mais rápido possível dali, quando me aproximava do portão um carro para em minha frente, sua janela se abre e dela uma bexiga com tinta rosa voa em direção ao meu rosto, todos começam a rir, fico ali parado sem reação, Elber e Felipe me levam para casa, não conseguia chorar, apenas tremia, sentia um dor intensa em meu corpo, não sei como descrever aquela sensação, subimos até meu apartamento, eu ainda estava todo sujo de tinta, quando Elber abriu a porta só uma coisa me vinha em mente, sentir os braços de Júlio me protegendo.
- Meu amor o que houve com você? Disse ele saindo da cozinha correndo em minha direção.
- Só me abraça Júlio, por favor!
- Ele foi atacado por uns vândalos na escola Júlio, mas creio que está tudo bem, vamos embora Felipe!
- Obrigado Elber, por ter trazido ele para casa.
- Qualquer coisa me liga, fica bem amigo.
Elber deixa nosso apartamento, mas o medo que eu sentia parecia não ir embora.
- Oh meu anjo o que fizeram com você.
Ficamos ali abraçados, procurava a todo instante em seus lábios uma forma de amenizar tudo aquilo.
- Você quer tomar um banho pra tirar essa tinta?
- Quero sim amor, você vem comigo?
- Vou sim!
Nossa sintonia estava completa, seus braços percorriam todo meu corpo, me abraçando a todo instante, ainda estava com medo, mas a presença de Júlio ali me deixava tranquilo, queria esquecer os problemas, mas eles estavam ali. A coisa certa a se fazer nesse instante é juntar forças para lutar contra aqueles que querem me fazer mal. Talvez eu tivesse que pedir ajuda á “ele” para que somente assim eu possa viver meu amor em paz, mas o preço de tudo isso seria catastrófico demais, poderia por até mesmo meu namoro com Júlio em risco.
- Brian! Vamos almoçar?
- ...
- Brian?
- Oi, o que você disse?
- Nem estava ouvindo o que eu disse né mocinho?
- Desculpa amor!
- Vamos almoçar a comida vai esfriar, hoje veio o que você mais gosta!
- O que?
- Lasanha de berinjela com atum grelhado!
- Sério? Nossa vou comer muito.
- Se comer tudinho quem sabe você não ganha outra berinjela de presente em?
- O que? Seu safado. (risos)
Enquanto estávamos á mesa pensamentos sobre o ocorrido vinham em minha mente, estava com medo de enfrentar tudo aquilo, pensei em desistir, mas minha mente dizia que “não!”, não era hora de parar com o meu destino, neste instante a campainha toca.
- Deixa que eu atendo Brian!
Júlio vai até a porta, noto uma expressão de preocupação em seu rosto, um senhor conversava com ele, eu estava aflito por não saber o que seriam aqueles papeis, Júlio fecha a porta e se despede do senhor.
- O que são esses papéis Júlio?
- São os exames que você fez em Portugal. Diz ele me entregando-os.
- Eu não quero abrir.
- Mas você tem que fazer isso meu amor!
- Eu não sei, e se eu estiver com HIV, o que vai ser de mim?
- Lembre-se de que eu sempre vou estar aqui contigo.
Aquilo era necessário, eu tinha que enfrentar o desconhecido, tinha que lutar e foi o que eu fiz.
- Então o que deu?
- Eu...
- Deu negativo!
- Oh meu amor estou muito feliz.
- Nossa eu nunca pensei que um dia poderia estar tão perto da morte assim.
- Brian HIV não significa morte, é claro sua vida muda radicalmente, mas você tem que lutar.
- Você tem razão amor. Vamos comemorar que tal?
- Ótima ideia, tem uma boate aqui perto vamos lá?
- Adoro quero dançar muito.
Vestimo-nos e fomos direto para a tal boate que o Júlio havia falado, se chamava “Coliseu” o lugar era estranho, com alguns homens despidos na portaria, muitos carros com o som alto, em seu interior uma música incrível me fazia ver tudo como se estivesse em câmera lenta, Júlio me acompanhava grudado em minha cintura, beijando-me pescoço, aquela noite estava mágica, todos os meus problemas estavam sumindo, minha realidade fora distorcida pelo êxtase da música das luzes, fomos para o centro da pista que naquele instante parecia ser nosso palco, todos nos olhavam, todos queriam estar no meu lugar isso me deixava ousado era como se meu lado “obscuro” estivesse surgindo.